sábado, 12 de setembro de 2015

IX. Um sonho real

                                                                                  



   Antes que Ana Maria e Rafael começassem a subir, a voz de uma criança soou nos seus ouvidos:

                - Na placa está escrito que as crianças e os adolescentes só podem subir acompanhados de seus pais. Mas como eu posso subir se não tenho nem pai e nem mãe?

              - Qual o seu nome, garoto – perguntou-lhe, Rafael.

                - Zezé – respondeu o menino.
                - Zezé, você se parece muito com uma pessoa que eu conheci, quando ele tinha a sua mesma idade. Mas você não deve ser filho dele, acho que ele é seu avô. Por acaso ele não se chama Delson? – lhe perguntou, Ana Maria.

                - Não, meu avó se chama Dé – Zezé disse com simplicidade.

                Os olhos de Ana Maria marejaram. Desde aquele fatídico dia, nunca mais pudera estar com Dé. E agora ela estava diante de seu netinho, que além disso era órfão, como ela era desde a sua infância.

                - O Vovô Dé não está aqui com você?

                - Não – respondeu uma voz feminina. – Ele ficou em casa com uma gripe muito forte. Ele queria ter vindo, mas não estava em condições de sair, porém me pediu que viesse. E eu trouxe o Zezé comigo. Ele mora conosco desde que seus pais morreram num desastre de avião.

                - Zezé! – Rafael entrou na conversa. - A profecia diz que para os órfãos haverá de descer alguém pela ponte para resgatá-los e leva-los para o alto. Vocês não podem ir sozinhos. Ana Maria tentou fazer isso. Mas não foi por causa disso que a ponte desmoronou. Foi porque eu olhei para trás.

                - Não, Rafael – interrompeu-o, Ana Maria. - As duas coisas contribuíram para o desastre. Porém, tudo começou porque eu o induzi a subir. Mas agora isso já não importa. A ponte foi restaurada pelo nosso querido filho. – Depois, dirigindo-se ao Zezé, falou-lhe: - Você deve confiar em que alguém virá lhe pegar.

                - O que ocorreu com todos aqueles que morreram e não subiram pela ponte; e também aos órfãos que morreram sem que pudessem subir e sem que ninguém viesse resgatá-los? – perguntou alguém da multidão.

                - Eu estudei alguns livros que falam da profecia e de tudo o que se refere a ela. Não consegui obter uma resposta certeira sobre essa questão. Mas me pareceu que se poderia classificar os mortos em três tipos. Aqueles que não puderam subir pela ponte, porque seus pais não as conduziram ou por serem órfãos, teriam sido levados para o alto por outro meio. Os adultos mortos que não subiram pela ponte por não darem muita importância à profecia ou por não a conhecerem chegariam no parque do céu por outro caminho mais árduo, doloroso e longo. Mas os que desprezaram e achincalharam a profecia nunca chegariam ao alto, mas vagariam para sempre sem rumo pelo deserto. – Assim, Rafael tentou transmitir o que sabia sobre a pergunta que lhe fora feita.

                Após um pequeno silêncio, Ana Maria disse:

                - Espero que todos vocês se atrevam a nos seguir rumo ao desconhecido, mas certeiro caminho que propicia uma permanente honra para quem por ele ousar andar.

                Rafael e Ana Maria deram as mãos, viraram-se em direção a subida e, com passos serenos e firmes, retomaram aquela aventura que, de modo errado tentaram realizar quando eram adolescentes. Agora, sem hesitar e sem olhar para trás foram se distanciando da multidão num rumo certo para o alto. Atrás deles foram os parentes dos ajudantes de Augusto. Ninguém olhou para trás. E a multidão viu como todos iam se perdendo de vista ao chegarem à estratosfera, à distância de 10 km da superfície terrestre. Logo, alguns adultos e crianças e adolescentes, acompanhados pelos seus pais, também tomaram a decisão de dirigir seus passos rumo ao alto. E esse movimento de gente disposta a seguir o mesmo destino, foi se fazendo, com o tempo, mais numeroso. Mas, naquele momento, Zezé não pode realizar esse sonho por isso, ao lado da sua avó, chorou amargamente.

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