Depois
de meia hora avançando nos trilhos, o trem, no qual Rafael e Dé entraram
clandestinamente, parou numa estação. Quando a maria fumaça se pôs novamente em
movimento, Dé olhou para fora e viu Ana Maria agachada em baixo de uma árvore e
avisou a Rafael:
-
Olha! É ela ali.
-
Vamos, Dé, temos que descer do trem.
-
Mas as portas já estão fechadas e o trem já começou a andar – ponderou, Dé.
-
Então vamos ter que pular a janela e rapidamente, antes que esta máquina pegue
velocidade. Vá, pule, pule.
Dé
pulou pela janela e Rafael foi atrás para espanto dos passageiros,
principalmente da senhoria, que gritou de susto.
-
Tchau, vovó, já temos que ir – disse-lhe gracejando, Rafael.
Correndo,
foram onde Ana Maria estava, que continuava chorando e muito triste. Ao vê-los,
ela levantou-se num salto e os abraçou com emoção. Contou como, depois que o
seu trem partiu, todos queriam saber o que tinha acontecido. Mas ela não quis
revelar nada, manteve-se em silêncio, ou melhor, chorava convulsivamente.
Depois de uns minutos o trocador disse que havia telefonado à prefeitura de uma
cidade que ficava mais adiante e ela seria deixada lá para ser entregue aos
cuidados do município que a levaria para um albergue. Porém, naquela estação
onde estavam, ela aproveitou a parada do trem – que ia pegar mais passageiros -
e, um pouco antes das portas se fecharem, ela escapuliu para o mato.
-
Acho que não quiseram vir atrás de mim – concluiu ela o seu relato.
-
Vou telefonar para meu pai e ele virá nos pegar de carro – tomou a decisão,
Rafael.
Por
telefone ele explicou ao pai sucintamente o que tinha acontecido e pediu que
fosse lhes pegar naquela estação que ficava uma meia hora da cidade. Seu pai e
sua mãe foram, depois de tomarem algumas providências.
Os
três já estavam começando a passar frio com a queda do sereno, quando,
finalmente, os pais de Rafael chegaram à estação onde eles os esperavam.
-
Oh! Meu filho. Quando você telefonou, eu estava indo ao seu quarto lhe chamar
para ir jantar. Ainda bem que não fui antes, porque teria morrido do coração –
desabafou a mãe de Rafael.
-
Você, Rafael, não poderá voltar à cidade por agora – explicou o pai de Rafael.
– Sua mãe e eu preparamos algumas roupas e vamos lhe levar para a casa da sua
avó agora mesmo. Você vai ficar lá alguns dias até que os ânimos na cidade se
acalmem.
-
E Ana Maria? Ela também não pode voltar à cidade? Ela terá que vir conosco
também – implorou Rafael.
-
Nós passamos na creche e pegamos os pertences de Ana Maria. Estão aí no carro.
Sim nós levaremos ela para a sua avó e comunicaremos aos avós dela para irem pegá-la.
Quanto ao Dé, ele voltará conosco para a cidade. Dissemos aos seus pais que
estávamos vindo para isso – ponderou o pai de Rafael.
-
Pai, Ana Maria não pode ir morar com seus avós, eles não têm condição de cuidar
dela, por isso a enviaram à creche! – assim Rafael argumentou para que seus pais
a deixassem ficar com ele na casa da avó.
-
Depois, veremos isso melhor. Agora vamos, temos uma longa viagem a fazer até a
casa da sua avó – completou o pai de Rafael.
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