sábado, 15 de agosto de 2015

V. A Insurreição

                             O barulho provocado pelo tremor que destruiu a ponte, atraiu muita gente ao epicentro do acontecimento trágico. As pessoas iam chegando e olhavam estarrecidas para o que ocorrera com aquilo que antes era uma ponte. Rafael e Ana Maria choravam muito e tentavam explicar o que tinha acontecido. A multidão se enfureceu com o relato dos dois e, sem curar suas feridas, levou-os com brutalidade para fora do parque.


Como Rafael tinha família, foi conduzido à sua casa, mas recomendaram aos seus pais que, no dia seguinte, ele não estivesse mais na cidade. E se o encontrassem ainda por lá, eles mesmo o expulsariam dela. 

Ana Maria, não teve a mesma sorte. Como não tinha família, nem se preocuparam em levá-la para a creche, mas a jogaram num trem que partia da estação, conjurando-a a não pisar mais os seus pés na cidade. Os funcionários da empresa ferroviária ficaram tão assustados com a fúria da turba, que nem esboçaram impedir que uma menina menor de idade viajasse sem companhia e sem autorização.

Em casa, Rafael contou aos seus pais o que havia acontecido na ponte. Eles o consolaram e disseram que no dia seguinte o levariam para a casa do seu avô no interior para que ficasse lá durante um tempo até que os ânimos de revolta na cidade se acalmassem. Ele lhes implorou que levassem também Ana Maria, pois pensava que ela, com certeza, seria expulsa do mesmo modo da cidade e não poderia ir à casa dos seus avós. Seus pais concordaram e prometeram pegá-la naquele mesmo instante na creche e a levariam com ele. Eles não sabiam que Ana Maria, à essa altura, estava soluçando, de tanto chorar, no banco de um trem sem saber para onde estava indo.

Quando Dé ouviu em casa a conversa dos seus pais sobre a história dos seus dois amiguinhos, foi correndo falar com Rafael, porque eles precisavam encontrar Ana Maria, que estaria em algum trem e em algum lugar deste mundo. No quarto de Rafael, decidiram pular a janela para ir à estação de trem, sem que ninguém da casa percebesse. 

       Na estação, Rafael calculou mais ou menos a hora que Ana Maria teria sido jogada no trem, e concluiu que ela deveria estar num que saíra na direção Norte. Então falou com Dé que iria entrar no primeiro trem que fosse naquela direção. Dé falou que embarcaria com ele nessa. Mas a dificuldade estava em como eles entrariam no trem, porque, mesmo que tivessem dinheiro – e eles não tinham – não deixariam dois menores sozinhos fazerem isso. Não havia outra solução, eles teriam que burlar os funcionários e entrar num trem que fosse para o Norte para tentar achar Ana Maria. Eles conseguiram realizar a façanha. Malandramente, sentaram perto de uma senhora idosa, que poderia ser considerada – para tripulantes e passageiros – como se fosse a vovó deles.

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