terça-feira, 4 de agosto de 2015

III. Um Amiguinho

                                      A creche para onde Ana Maria fora levada como interna, fazia quatro dias, tinha uma escola adjacente, onde os internos e o externos estudavam. Na segunda-feira – dia seguinte daquela tentativa frustrada de subir a ponte - Ana Maria foi às aulas. No intervalo, reconheceu aquele menino mais velho da turma do parque e se dirigiu a ele.

- Olá, sou Ana Maria.
- Eu sei, minha mãe me contou. Eu me chamo Rafael. Sou do 7º B. Eu vi quando você chegou, outro dia, na creche da minha mãe aí do lado. E também já conversamos no parque sobre aquela ponte. Lembra?
- Lembro sim, Rafael. Quem é a sua mãe?
 - A Simone. Ela é a dona e a diretora da creche. Depois das aulas eu vou lá para ir embora para casa com ela. Quem eram aqueles que trouxeram você para a creche?
Ana Maria ficou triste de saudades.
- São meus avós. Eles cuidam de mim desde quando eu tinha três anos, quando meus pais morreram num acidente de carro. Mas agora eles já estão bem velhinhos e doentes e não conseguem mais me dar os cuidados que sempre me deram. Por isso acharam melhor me internar nessa creche. Eu estou gostando dela.
- Que bom! Eu também gosto, mas só para passar algumas horas.
- Rafael! – Ana Maria, olhou-o e sentiu que poderia dizer-lhe algo do que acontecera na ponte. Falou do que tinha visto quando olhou para trás, mas não mencionou o tremor da ponte, apenas disse que tinha decidido não continuar subindo. Não sozinha. Tentou convencê-lo a acompanhá-la.
Rafael ficou comovido com a tentativa de Ana Maria em subir a ponte. Ficou ainda mais emocionado com o relato da visão que ela tivera. Mas, com bom senso, explicou à menina que não poderia acompanhá-la nisso, porque a placa na entrada dizia que as crianças e adolescentes só poderiam subir por ela acompanhados pelos pais. Ana Maria tentou impressioná-lo, dizendo que ela não tinha pai e nem mãe, por isso estava condenada a não subir. Rafael quis dar-lhe esperança de que o homem da profecia - que desceria para apanhar os órfãos - haveria de vir para levá-la. Ana Maria desistiu de tentar convencê-lo, cortou aquela conversa e disse que iria subir aquela ponte sozinha.
Depois das aulas, Ana Maria foi à creche para almoçar. Após a refeição, ela saiu de mansinho e tentou que ninguém a visse, mas Rafael estava à espreita.
- Você vai mesmo subir aquela ponte, Ana Maria?

- Preciso ir, Rafael. Ela me seduziu, não consigo mais ficar aqui sem deixar de pensar no que tem lá em cima. Por favor, não precisa me acompanhar. Eu posso ir sozinha. Adeus.

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