Ana Maria despertou
no domingo, tomou rápido o seu café na creche e disparou para o parque. Não
quis brincar com as meninas e os meninos, foi direto à ponte. Ficou durante
muito tempo olhando-a, imaginando o que haveria lá em cima. Lembrou-se do
esquilinho e do seu olhar extasiado. Decidiu entrar na estrutura que comunicava
o parque com as alturas do firmamento. Antes de dar o primeiro passo, olhou
para trás, viu as crianças brincando felizes no parque e tornou a virar-se em
direção à ponte. Após um momento de hesitação decidiu subi-la.
Com passos
acanhados, foi ascendendo lentamente aquela rampa de madeira, ricamente
adornada, que se perdia nas alturas. Criou coragem e apertou o passo. Bruscamente
parou de subir e lembrou-se dos dizeres da placa na entrada: “Quem venha por
ela, não olhe mais para trás”. Pensou, estranhada, que o esquilo havia olhado
para trás exatamente no ponto em que ela agora se encontrava e nada de mau
havia acontecido com ele. Pelo contrário, recordou-se dos seus olhos arrebatados.
Considerou se não poderia também dar uma olhadinha para baixo e decidiu fazer
isso. Virou-se. O que viu não é possível descrever em palavras. Foram imagens
que não se podem comparar com nada do que existe neste mundo. Era um mundo
novo, onde todos os seres que lá viviam tinham os corpos transparentes. Ela
podia conhecer, minuciosamente, o interior de cada um. Não só o interior
físico, mas também as suas almas, que eram formosas.
Embebida
nessa visão extraordinária, sentiu que a ponte começou a tremer aos seus pés. Desequilibrou-se
e, antes que caísse, conseguiu correr ao corrimão, segurou-o com firmeza,
virou-se para o alto e tentou retomar a subida. Mas a ponte balançava muito.
Era como se fosse um lençol esvoaçado pelo vento. Ana Maria caiu sentada e foi
escorregando até que seus pés se chocaram com a placa no sopé da ponte, que
parou de tremer. Ela se levantou, deparou-se com uma ponte intacta e mansa como
antes, mas não se atreveu a subir por ela novamente.
Muita
assustada, voltou à creche e ficou aquele domingo trancada no seu quarto.
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